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(pt) Italy, Sicilie Libertaria #454 - Ferri: DEMOCRACIA E/OU ANARQUIA? - Sobre as raízes libertárias da democracia grega. (ca, de, en, it, tr)[traduccion automatica]

Date Wed, 15 Jan 2025 09:11:44 +0200


Um livro recente de Donatella Di Cesare, publicado pela Einaudi com o título "Democracia e anarquia. Poder na pólis", aborda a relação entre a teoria e o sistema político da democracia na Grécia nos séculos V e IV a.C.. e anarquismo. Conversamos sobre isso com Enrico Ferri, um conhecido estudioso de Stirner e do anarquismo, mas um conhecedor não superficial da democracia grega, ao qual dedicou vários ensaios em várias línguas, entre eles uma nova e recente tradução e edição de Pseudo Xenofonte, também conhecido como o Velho Oligarca, publicado pela Rubbettino. ---- D) Tanto no campo democrático quanto no anarquista, não há muitos que tenham abordado as relações existentes entre a teoria democrática grega e o pensamento anarquista.

A) É facto que os anarquistas deram pouca atenção ao fenómeno político, cultural e ideológico representado pela democracia dos atenienses. Kropotkin, por exemplo, no verbete "Anarquismo" da Enciclopédia Britânica de 1910, ao falar dos precursores do anarquismo, faz uma referência fugaz a Aristipo e Zenão, mas não menciona a filosofia política da democracia e seu sistema político. Na "Ética" cita vários autores gregos, mas não há referência ao sistema democrático. As coisas não mudam se considerarmos teóricos como Bakunin, Proudhon e Stirner, ou o debate político dentro do movimento anarquista, não apenas europeu, do século XIX ou XX.

D) Donatella Di Cesare sustenta que o núcleo teórico da democracia antiga e o do anarquismo, a partir da crítica ao poder, são os mesmos. Na sua opinião, essa comparação está correta?

A) Aristóteles, numa passagem de "Política", que recorda Di Cesare, sustenta que os democratas "não quereriam nenhum governo, porque o homem livre não tem senhores, mas não podendo prescindir do governo, escolhem governar e ser governado por sua vez." É interessante notar que, segundo Aristóteles, na perspectiva democrática todo governo político é visto como uma forma de despotismo. Ao mesmo tempo, reconhece-se que a comunidade não pode viver sem ser administrada, pelo que se escolhe a forma de governo (administração) mais próxima do não-governamental. O autogoverno é a negação de qualquer sistema comunitário baseado num poder hierárquico (arché), que vem de cima e é independente dos governados. Este governo democrático, mas poderíamos defini-lo como perfeitamente libertário, consiste em "governar e ser governado alternadamente". Esta suposição está perfeitamente alinhada com o outro princípio democrático, relatado por Heródoto, pela boca de Megabysus, que torna a liberdade democrática com a fórmula nem árchein nem árchestai: nem comandar nem ser comandado.

D) Em "Democracia e anarquia" lemos que "a questão[do poder na democracia]é ontológica, antes mesmo de ser política", bem como que "a democracia é sempre incompleta", que "carece de certos pressupostos", que é sempre "infundado".

A) Górgias de Leontini, sendo Protágoras o maior representante da Sofisticação, sustenta que "O ser não é, mesmo que fosse real não seria compreensível para o homem e se assim fosse não seria em caso algum exprimível e comunicável", de acordo com o que Sesto relata Empírico. Em resumo, diz que a questão do Ser, que é também a questão da Fundação original, não é real, em todo o caso completamente ausente e alheia à existência e à história dos homens.

P) Que consequências esta abordagem tem na esfera política?

A) Górgias também defende o que poderíamos definir como a lei da oportunidade, que uma determinada escolha pode ser mais ou menos válida dependendo das circunstâncias. Não se trata, portanto, de inspirar-se em supostas verdades objetivas e fundadoras, mas de avaliar e escolher corretamente em função das circunstâncias.

P) O chamado relativismo epistemológico?

A) O relativismo gnoseológico geralmente significa que existem diferentes representações da mesma realidade, dependendo das perspectivas. A sofisticação também afirma que a mesma pessoa, ou uma determinada comunidade, pode ter uma representação diferente da realidade e uma abordagem diferente da mesma se mudarem as suas condições de vida, ambiente geográfico, clima ou sistema político em que se encontra. Heródoto, por exemplo, afirma que os egípcios têm hábitos e estilos de vida opostos aos dos gregos, mas apenas porque vivem com um clima e um rio completamente originais. Hipócrates, em seu tratado "Sobre os Ares, Águas e Lugares", afirma que os gregos assentados na Ásia Menor (Anatólia) possuem caracteres diferentes dos asiáticos da mesma região, pois possuem instituições políticas diferentes.

D) Em "Democracia e Anarquia", quase parece que na base da democracia grega existe um pressuposto antimetafísico moderno.

A) Do século VIII ao VI, os gregos colonizaram vastos territórios em três continentes e circunavegaram a África, começando pelo Mar Vermelho; para o comércio, eles tinham ido até a Islândia e conheciam muito da Ásia Menor. Basta ler as histórias de Heródoto, Hipócrates ou a "Anábase" de Xenofonte para perceber que eles tinham perfeita consciência da diferença de costumes, cultos, morais, práticas familiares e sexuais e das relações que mantinham com o clima, a orografia e a geografia. . A sofisticação, à qual Di Cesare não dedica a atenção necessária, soube representar perfeitamente essas aquisições e suas consequências.

P) Que impacto tem esta abordagem, por assim dizer anti-ontológica, na caracterização do sistema democrático ateniense?

A) Na democracia, para voltar às teses de Di Cesare, não existe uma verdade universal e imutável por onde partir, não há problema de fundamento, de certos pressupostos. A única coisa absolutamente certa é que o poder pertence ao povo, isto é, à comunidade como um todo, e que o interesse da comunidade é superior ao de qualquer indivíduo ou parte da comunidade. Este segundo princípio, que mais tarde se tornou uma aquisição fundamental não só da democracia antiga, remonta a Sólon, chamado a resolver os conflitos entre os oligarcas e o povo: afirmou que os interesses da comunidade, considerada como um todo, iam além dos dos as aulas individuais.

D) Esta visão é a base da igualdade democrática?

A) Certamente: numa democracia todos os cidadãos são iguais perante a lei, o que se chamou de isonomia, todos têm o dever de contribuir para a vida comum, para as necessidades e para a defesa; na Atenas democrática houve pela primeira vez a criação de um exército popular. Em Maratona, dez batalhões formados por cidadãos, e não por soldados profissionais, lutam contra a elite do exército persa. Além disso, em Atenas, como recorda Péricles no seu famoso encómio, todos têm o direito/dever de participar na gestão dos assuntos públicos. Mesmo no Ceramico, o cemitério de Atenas, os sinais de opulência e distinção na arquitetura dos túmulos são desencorajados.

D) Mas a igualdade democrática tem uma série de limitações, tanto dentro da cidadania como fora dela.

A) Quando falamos de igualdade democrática estamos a falar de igualdade essencialmente política, não social ou económica. O que é isso é brilhantemente explicado por Protágoras no diálogo platônico de mesmo nome, com o exemplo dos flautistas. Pode ser simplificado nestes termos: "Para definir alguém como flautista, não é necessário que ele seja um virtuose do instrumento, basta saber tocá-lo, ainda que de forma elementar. Da mesma forma, um cidadão é cidadão se puder participar na vida política da cidade". Esta igualdade "básica" não ignora os méritos individuais, mas antes coloca-os no centro da vida política. Além disso, a Atenas democrática tomou uma série de medidas que iam além da mera igualdade política, por exemplo, uma política de controlo do preço do trigo, importado principalmente do Mar Negro (Ponto Euxine) e formas de compensação para permitir a participação dos menos favorecidos. na vida política, por exemplo nos Tribunais e na Assembleia. A prática generalizada de sorteio, para atribuir cargos que não exigiam competências especializadas, implica uma visão igualitária.

D) Contudo, há também a questão da condição servil de parte da população e da condição certamente subordinada das mulheres atenienses.

A) É um facto: em Atenas uma parte significativa da população é constituída por escravos, estrangeiros residentes (metecos) que tinham direitos políticos limitados e mulheres que não podiam participar na vida política.

P) Como é possível definir um sistema político fundado na escravidão como libertário?

A) A escravidão é uma presença constante na história, até os dias atuais. Pensemos, por exemplo, no sistema colonial das democracias modernas, que era na verdade um regime escravista. Ou à Revolução Francesa, que manteve as colónias, ou à democracia americana, onde até os presidentes exploraram escravos de origem africana. Deve também ser lembrado que alguns críticos da democracia, como Platão e o Velho Oligarca, argumentam que na democracia as mulheres e os escravos gozam de uma liberdade excessiva, que não tem contrapartida noutras formas de governo.

D) De Cesare fala da "desterritorialização" e do rompimento dos laços de sangue, levada a cabo pela democracia ateniense.

A) Sim, exatamente o oposto da fórmula "Terra e sangue", tão cara ao nacionalismo. Com a reforma de Clístenes em 508 a.C., a população foi dividida em 10 tribos, cada uma localizada em vários pontos do território, na cidade em direção ao mar e no sertão. O vínculo político substitui o vínculo familiar, de sangue, que por sua vez está ligado a uma localização territorial.

P) Você pode resumir para Di Cesare quais são as características mais propriamente anárquicas da democracia ateniense, que você compartilha?

A) Certamente a visão crítica do poder, a desconfiança ou oposição a qualquer concentração de poder nas mãos de um ou de poucos. Os cargos, salvo raras exceções, são sempre atribuídos pro tempore, geralmente não renováveis. O poder também é monitorizado durante o seu exercício e todos são chamados a prestar contas no final do seu mandato pela forma como geriram o seu papel. Cada cidadão é instado a exercer controle sobre a gestão do poder. O objetivo principal é incentivar a participação cidadã e a redistribuição do poder, como lembra Di Cesare, sempre administrado "provisoriamente", porque não pertence a ninguém em particular, mas apenas à comunidade como um todo.

D) Di Cesare escreve que a pólis democrática não é o estado. Esta tese está correta?

A) Em Atenas não existe um aparelho político-administrativo permanente, não existem funcionários do Estado, mas sim cidadãos que desempenham determinadas funções pro tempore, quase sempre gratuitamente. As próprias leis são promulgadas em nome do povo (e do Conselho dos 500), não da cidade de Atenas

P) Quais são os limites da democracia ateniense que, na sua opinião, Di Cesare não considerou?

A) O vínculo político, que substitui aquele baseado na consanguinidade e na territorialidade, cria uma união que inclui aqueles que dela fazem parte e exclui outros: estrangeiros, não cidadãos, até aliados. Vemos isto na política externa da democracia ateniense, após a Segunda Guerra Persa e na Guerra do Peloponeso. Os próprios aliados democráticos da Liga de Delos são considerados escravizados, doúloi, de acordo com leis de poder definidas como universais e eternas. Lemo-lo em Tucídides, nas crónicas da Guerra do Peloponeso e no famoso diálogo entre os atenienses e os habitantes da Ilha de Melos.

P) Quais são as outras diferenças entre a democracia grega e a anarquia?

A) A democracia grega é fruto de um processo político que durou dois séculos. É um sistema político que se afirma de forma disruptiva a partir das reformas de Clístenes em 508, realidade histórica que se estabelece ao longo do tempo, através de uma série de transformações e reformas. Basta considerar que não existe nenhum texto detalhado do século V ou IV a.C. que descreva o que é a democracia, além do elogio fúnebre de Péricles. A anarquia moderna nasceu como uma teoria política a partir de Bakunin e ao mesmo tempo como um movimento político, mas nunca se tornou a teoria política que regula permanentemente a vida de uma comunidade alargada. O elemento teórico é preeminente, enquanto na democracia grega é o elemento prático que domina.

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